Cidades do Futuro - Parte 1

Cidades do Futuro - Parte 1
Fotografia: Tiago Canoso e João Barbosa

“Temos de perceber onde é que a tecnologia pode ser útil aos cidadãos”

Smart Cities. O conceito começou por soar estranho, mas hoje são cada vez mais os que o associam a inovação, eficiência energética, sustentabilidade ambiental, segurança, empreendedorismo e até transparência. O presidente da secção Smart Cities da Associação Nacional de Municípios (ANPM), Almeida Henriques, fala com orgulho do que já foi feito, mas sabe que ainda muito falta fazer. Ele quer dar o exemplo a partir da cidade que lidera, Viseu, que ainda este ano deverá ter o primeiro transporte público eléctrico não tripulado da Europa.

Entrevista ao Presidente da Camâra Municipal de Viseu Dr. Almeida Henriques:

Quando se fala de smart cities fala-se de inovação mas também eficiência, melhor utilização dos recursos. A situação de seca que se verificou recentemente no distrito de Viseu veio confirmar a utilidade deste tipo de projectos?

Hoje, falar de smart cities é aplicar o conceito de “inteligência urbana”, que não é mais do que colocar a tecnologia ao serviço da felicidade das pessoas, tornando a sua vida mais fácil, e ao mesmo tempo facilitando a vida dos decisores, neste caso as autarquias. As fragilidades também nos fazem apostar mais na tecnologia, mas no caso concreto da seca, da água, Viseu já está num patamar ex- tremamente elevado. Dez por cento dos 47 mil clientes das Águas de Viseu já têm contador inteligente.Temos telemetria, o que permite avisar as pessoas quando têm uma torneira aberta ou o autoclismo a pingar. Obviamente que a aplicação da tecnologia não consegue prever situações de seca, foi algo que não esperávamos. Isso obrigou-nos a desenvolver o aumento da capacidade da Barragem de Fagilde, para poder armazenar mais um milhão e meio de metros cúbicos para o próximo Verão, e a reforçar pelo menos duas captações externas, para estarmos mais preparados para esse período. Ao mesmo tempo, estamos a fazer investimentos estruturais, designadamente numa melhoria da nossa ETAR para podermos poupar um milhão de metros cúbicos com o tratamento das lamas. Estamos ainda a criar uma conduta que vai ligar-nos a Balsemão, no concelho de Lamego, para permitir uma redundância no abastecimento de água a este território, e a constituir uma sociedade intermunicipal, onde vão entrar estes municípios mais afectados pela seca [Viseu, Nelas, Mangualde e Penalva do Castelo] e outros quatro – Vila Nova de Paiva, Sátão, Vouzela e São Pedro do Sul.

Além da eficiência energética, que outras áreas destacaria como prioritário desenvolver no âmbito das smart cities?

Temos aqui áreas transversais. Aliás, na secção de smart cities da ANMP procurou-se criar um denominador comum para as várias autarquias e foi identificado, desde logo à cabeça, a eficiência energética. É um trabalho que está a ser feito por muitas autarquias, designadamente na iluminação pública, onde há um efeito de poupança muito significativo. Mas não se trata só de colocar lâmpadas LED, trata-se de pôr densiómetros, para medir a intensidade da luz solar, e com isso poder poupar energia, ou instalar sensores para ligar ou apagar a electricidade em estradas com menos movimento.

A eficiência energética pode fazer-se também em edifícios: as nossas piscinas, os nossos campos de jogos, as nossas escolas, são grandes consumidores de energia. Para além da eficiência energética temos a questão da mobilidade. Até com esta nova legislação, é importante pensar a mobilidade não apenas na questão do transporte em autocarros, mas também no transporte urbano, no transporte “on demand”, na mobilidade suave, na segurança de peões. Tudo isto está envolvido. Esta é uma área onde os municípios estão muito atentos e a fazer o seu trabalho.

E em Viseu, o que está a ser feito?

Temos o nosso MUV – Mobilidade Urbana de Viseu, que é uma visão integrada do que é a mobilidade, desde a remodelação da central de camionagem, que passará a ser o nosso centro de mobilidade e transportes, até à mobilidade suave, com 5,5 quilómetrros de vias, onde nesta primeira fase vamos ter 50 bicicletas ao serviço, mas depois iremos evoluir, com bicicletas eléctricas e normais. Na componente da segurança, hoje as principais vias de Viseu são seguras, graças à inteligência urbana. Todas as nossas escolas têm passadeiras seguras. No caso do transporte urbano, Viseu passa a ter transportes urbanos e eléctricos para o centro histórico. Está em curso a instalação do primeiro transporte não eléctrico não tripulado em serviço urbano. Seremos a primeira cidade da Europa a ter um serviço destes.