“Caminhar um dia inteiro”

“Caminhar um dia inteiro”
Fotografia: Tiago Canoso

Desde muito cedo que o Homem aprendeu as vantagens de consumir cacau, a matéria-prima da qual se faz o chocolate. Os Toltecas, povo que dominou grande parte do México entre os séculos X e XII, acreditavam nas propriedades afrodisíacas desta planta. Um dos seus reis, Quetzalcóatl, chegou mesmo a decretar que só ele e os amigos mais próximos tinham direito a provar a “poção mágica”.

Também os Maias bebiam cacau com esse propósito. A partir das sementes da planta faziam um líquido amargo, chamado xocolatl, geralmente temperado com baunilha e pimenta. Estavam convencidos de que ajudava a combater o cansaço, e a ideia parece fazer sentido: quando os espanhóis tomaram conta dos impérios Maia, Asteca e Inca, passaram a usar a bebida de cacau como fonte de energia. “Uma taça da preciosa bebida permitia aos homens caminhar um dia inteiro sem necessidade de outros alimentos”, escreveu o conquistador Hernan Cortés ao imperador Carlos V. Os espanhóis e os portugueses mundializaram uma planta para eles nova, mas já muito antiga: os primeiros registos que se conhecem são de há mais de 4 mil anos. Os primeiros cacaueiros surgiram no que é hoje a Venezuela e o Brasil, mais precisamente nas margens dos rios Orinoco e Amazonas. O cacau começou a ser levado para outras regiões quando as primeiras civilizações americanas descobriram que podiam plantar os grãos deixados para trás pelos pássaros. O novo alimento ganhou fama e chegou ao México pela mão dos Olmecas, que terão sido pioneiros a “domesticar” o cacau.

Séculos mais tarde, os primeiros grãos entraram na Europa pelo porto de Sevilha, um dos mais importantes do século XVI, a par do de Lisboa, e rapidamente se espalharam pelo Velho Continente. Os portugueses levaram-nos para São Tomé e Príncipe, introduzindo assim o cacau no continente africano, cuja região ocidental é hoje é um dos maiores exportadores do produto.

No século seguinte, o chocolate, até então consumido apenas como bebida, passou a ser usado também na forma de doces, tornando-se uma iguaria muito apreciada pela nobreza europeia. Foi por esta altura que surgiram as primeiras “casas de chocolate”, em Inglaterra, que eram espaços de jogos e distracção mas também de intrigas políticas.