Design a Brincar em Português
Foi inaugurada, no dia 7, na Casa do Vinho, na Praceta Rogério Calás de Carvalho, centro histórico de Barcelos, a exposição “Design a Brincar em Português”, resultado de uma seleção de brinquedos do colecionador Paulo Parra. Nas palavras deste designer e professor de Belas-Artes, “esta exposição está organizada segundo o conceito de que “O Design também Brinca”. Nessa perspetiva, a exposição permite não só “Brincar com o Artesanato”, mas também “Jogar para Brincar”.
A propósito desta iniciativa, a vereadora da Cultura, Elisa Braga, pergunta: “Quem nunca olhou para trás e rebuscou no baú da memória aqueles brinquedos que fizeram as delícias da nossa infância?”, e acrescenta: “Considerados importantes no processo de aprendizagem e fundamentais na formação da personalidade, os brinquedos eram (e continuam a ser), sobretudo na época natalícia, o sonho de qualquer criança e motivo de fascínio do desembrulhar um presente. Ter um brinquedo possibilita ascender ao mundo de realidades imaginárias, jogar, brincar ao faz de conta, interagir, socializar, aprender. Esse é o mundo mágico dos brinquedos. E é um pouco desse mundo, que o colecionador Paulo Parra nos permite reviver, ao brindar-nos com a exposição: “O Design também Brinca”.
Esse será, com toda a certeza, um dos aliciantes desta exposição. Até porque, como realça Paulo Parra, a mostra elucida como «Educar as Raparigas a Brincar com Bonecos e Bonecas» qual “O Grande Sonho dos Rapazes: Os Carros”, e permite “Brincar e Jogar com Brinquedos da Nossa Escala”. Além disso, possibilita “Brincar às Surpresas” e até “Brincar ao Carnaval”. Entretanto, pode-se “Estudar para Brincar”, assim como “Poupar para Brincar”, e ainda descobrir os principais “Brinquedos na História do Design Industrial” ou saber como “Coleccionar Brinquedos”. “Tudo isto teremos de procurar dentro de umas fantásticas bolas de Natal gigantes! É que esta exposição também é para aprender a brincar com o Design!”, sublinha o colecionador.
A exposição vai ficar patente, na Casa do Vinho, até ao dia 4 de março e pode ser vista de terça a sexta-feira das 10.00h às 12.30h e das 13.30 às 17.00h. Aos sábados e domingos das 14h00 às 17h30.
UMA EXPOSIÇÃO DE DESIGN A BRINCAR
O design sempre teve uma atitude educativa e pedagógica. Está presente na maior parte dos seus produtos. Ensinar a utilizá-los do melhor modo, embuti-los de atitudes éticas, sociais e ambientais são algumas das suas funções. Daí que os brinquedos e jogos sejam uma forma de educação, importantíssima não só na formação das crianças, como também na dos adultos.
De facto, a carga emocional, estética e lúdica presente num brinquedo ou num jogo é imensa e pode contribuir de um modo muito importante para a formação da criança e até do adulto. Dos jogos, de carácter amplamente social, às miniaturas que representam uma realidade em escala menor, os valores de uma de uma cultura estão presentes de uma forma muito assumida. Poder-se-á conhecer uma sociedade pelos seus brinquedos?
Portugal, como outros países, tem uma enorme tradição na produção de brinquedos. Os jogos fazem parte do nosso colectivo e, se no início eram uma tradição oral, mais tarde, com o desenvolvimento dos meios de produção, passaram a ser um elemento importante para o desenvolvimento e bem-estar da criança. Com efeito, traduzem-se numa forma de entretenimento e também um modo sublimado de dar a conhecer os valores da sociedade.
E nos brinquedos temos de tudo: jogos, figura humanas e animais, representação de casas e até de cidades, transportes. Enfim, de tudo conseguimos miniaturizar. Por exemplo, os automóveis em miniatura. Na perspectiva do design, quando se decide reproduzir um determinado modelo de automóvel existente, como é sabido, normalmente este já foi desenhado na realidade e, portanto, assistimos comummente a uma redução para uma escala determinada do design original. As dimensões inclusive muitas vezes são determinadas através dos desenhos originais, fornecidos pelas marcas de automóveis, elas próprias também muitas vezes comercializadoras de miniaturas, para brincar ou para coleccionar.
Embora os veículos sejam a maior produção de brinquedos, outro exemplo paradigmático são os bonecos e animais. Estes são mais produtos de um processo escultório, que pode ser feito também por designers de modelação, mas que normalmente será atribuído aos escultores. Depois de esculpido o modelo, são feitos os moldes, para depois iniciar a reprodução e comercialização.
Outro dos exemplos mais difundidos é o dos jogos. Estes são normalmente produto do trabalho de ilustradores ou designers gráficos, que concebem todos os elementos gráficos do jogo, de modo a comunicarem com a criança ou crianças, motivando-as para a participação no jogo. Algumas ilustrações destes, como no caso das construções modulares, são de grande complexidade e requerem conhecimentos técnicos aprofundados.
Este processo de concepção é característico das grandes marcas como a Matchbox, a Steiff, a Mattel, a Meccano ou a Lego. Mas progressivamente foi estendido às marcas mais pequenas. Em Portugal para referir alguns exemplos, temos a Augusto Poitier, a Majora, a Pepe, a Vitesse, a Ancasil, ou a Fabrinca, fábrica que sempre se apoiou nos valores nacionais, pelo que se destacaram na sua capacidade de inovação do brinquedo nacional.
Se inicialmente os brinquedos eram feitos com os materiais que existiam perto do sítio onde se brincava, com o desenvolvimento tecnológico e industrial estes começaram também a sua viagem pela globalização. Devido a essas circunstâncias, os materiais são os mais variados, pois quase todos estão presentes nos jogos e brinquedos, com raras excepções para os mais perigosos, mesmo assim alguns presentes em épocas especiais como o Carnaval.
Esta exposição pretende ser um alerta para a importância que estes brinquedos tiveram e têm na sociedade, enquanto elementos lúdicos, mas também pedagógicos, de transmissão de valores e de formação estética. E todos estes vectores fazem parte de um projecto de design. Podemos referir que, normalmente, os projectos de arquitectura e design começam com miniaturas, as maquetas, porque estas são o melhor modo de representar a futura realidade.
De modo muito simples propomos uma viagem pelos brinquedos e jogos portugueses, que cheios de design subtil promovem os seus valores. Apresentamos os tradicionais automóveis ou bonecas, elementos clássicos nos brinquedos, mas também as construções e os jogos em que a complexidade e interacção aumentam, constituindo um verdadeiro motor de formação.
Crescemos ou gostaríamos de ter crescido com todos aqueles brinquedos e jogos com que nos íamos cruzando e apaixonando. Começando por serem nossos, foram também partilhados com os amigos, ou até, em circunstâncias muito especiais, foram emprestados ou cedidos para os mais novos. Deste modo estes objectos lúdicos são, seguramente, um veículo importante na comunicação e formação de muitas crianças portuguesas, por vezes em diferentes gerações, passando de pais para filhos.
Esta mostra de parte da produção nacional inclui alguns dos brinquedos e jogos nacionais, que, na nossa opinião, têm uma dinâmica próxima do design. A forma segue a função, e aqui a função é lúdica, mas também é educativa e formativa da personalidade do futuro adulto. Certamente que quem brincou e jogou teve mais facilidade em se integrar na sociedade onde vive, daí a importância que estes elementos de cultura material têm na nossa cultura. E na óptica do design estes maravilhosos objectos foram evoluindo ao longo dos tempos, representando também a evolução da humanidade, dos seus valores e das suas preocupações com questões primordiais, como, por exemplo, a segurança do e no acto de brincar.
Design, vem de “desígnio com intenção”, ou seja, antecipar; também os brinquedos e jogos antecipam muitas das que serão as preocupações do futuro adulto. E certamente este estará mais preparado se brincou. E nesse percurso o design industrial e de comunicação foram cruciais. E nesta exposição temos Portugal a brincar!
Vamos brincar, querem?
Paulo Parra
Quem nunca olhou para trás e rebuscou no baú da memória aqueles brinquedos que fizeram as delícias da nossa infância?
Considerados importantes no processo de aprendizagem e fundamentais na formação da personalidade, os brinquedos eram (e continuam a ser) sobretudo na época natalícia, o sonho de qualquer criança e motivo de fascínio do desembrulhar um presente.
Ter um brinquedo possibilita ascender ao mundo de realidades imaginárias, jogar, brincar ao faz de conta, interagir, socializar, aprender.
Esse é o mundo mágico dos brinquedos. E é um pouco desse mundo, que o colecionador Paulo Parra nos permite reviver, ao brindar-nos com a exposição: “O Design também Brinca”.
Agradecendo a sua disponibilidade para organizar esta iniciativa, apropriamo-nos das suas próprias palavras para expressarmos a alegria de podermos brincar juntos, percebendo a importância que estes elementos de cultura material têm na nossa cultura”.
E se, como bem refere, “na óptica do design estes maravilhosos objectos foram evoluindo ao longo dos tempos, representando também a evolução da humanidade, dos seus valores e das suas preocupações com questões primordiais, como, por exemplo, a segurança do e no ato de brincar”, então aproveitemos esta excelente oportunidade para ficar a conhecer um pouco da produção destes brinquedos, no contexto do design português no período do pós-guerra e na sua democratização pelos efeitos da produção industrial, a partir do 1o quartel do século XX, embora a exposição também inclua brinquedos mais antigos que remontam a finais de século XIX.
Aceitando o desafio de Paulo Parra; vamos aprender e conhecer, brincando.