História de um Castelo e Pães, e de um Palácio e Vinhas
Unida a Espanha pela ponte que atravessa o Rio Minho, Monção foi das últimas terras raianas do distrito a ganhar importância.
“As origens de Monção são obscuras. Tudo sugere que seria uma terra reguenga, sem grande importância, no dealbar da nossa nacionalidade”. Quem assim o escreveu foi Carlos Alberto Ferreira de Almeida, na sua obra Alto Minho. Mas, apesar de não ter começado com igual protagonismo que as terras suas vizinhas, Monção foi ganhando importância aos poucos e poucos, até ser sido nomeada vila no reinado de D. Afonso II, em 1258.
Hoje em dia, este concelho do distrito de Viana de Castelo possui um património cheio de lendas e histórias. A ter que fazer um percurso, poderíamos visitar monumentos como o Castro de São Caetano, a Igreja de Valadares, a Igreja de Longos Vales, a Igreja de Ceivães, as Termas de Monção, a Torre de La- pela, a Ponte da Barbeita e o Museu do Alvarinho.
Contudo, não é injusto dizer que há dois locais que roubam a atenção: o Castelo de Monção e o Palácio da Brejoeira. O primeiro, à semelhança do pouco que se sabe sobre as gentes de Monção, carece de estudos que consigam apontar com exactidão as suas origens. Crê-se que foi no reinado de D. Dinis que terá sido erguido, altura em que a vila recebeu Carta de Feira. A partir daí, Monção foi ganhando lentamente o seu estatuto; a povoação e seu castelo constaram do Livro das Fortalezas de Duarte de Armas, que o escudeiro redigiu a pedido de D. Manuel. Aquando da Guerra da Restauração da independência portuguesa, modernizaram-se as suas defesas, que o francês Miguel de L’Ècole redesenhou para serem uma fortaleza de planta poligonal abaluartada. Em 1910, o Castelo de Monção foi classificado como Monumento Nacional. E em segundo lugar, o Palácio da Brejoeira, conhecido sobretudo pelo vinho da casta Alvarinho que aqui é produzido há décadas. Este Palácio, que possui uns verdejantes 18 hectares de vinha, foi mandado erguer em finais do século XIX. Pertenceu inicialmente a Luís Pereira Velho de Moscoso, e foi sendo passado de proprietário em proprietário em fases de menor ou maior decadência. Só em 1901 é que foi vendido em hasta pública a Pedro Maria da Fonseca Araújo, que revitalizou o Palácio com obras de restauro, concedendo-lhe um lago e jardins – foi também nesse ano que foi classificado como Monumento Nacional. A história do Palácio fica marcada no ano de 1977, quando Feliciano dos Anjos Pereira faz nascer a marca própria do vinho. Em 2010 o Palácio da Brejoeira abriu as suas portas ao público por visitas guiadas.
A Heroína que atirava Pães aos Espanhóis
Quem é a mulher que figura no brasão de Monção a arremessar pães duma fortaleza? É a mítica Deu-La-Deu, a quem se deve a expulsão dos castelhanos que procuravam tomar Monção. Diz a lenda que as tropas invasoras, aquando das Guerras Fernandinas, invadiram a vila e cercaram as muralhas da fortaleza. No interior, os habitantes, cansados e esfomeados, estavam prestes a render-se quando a mulher do capitão-mor, de seu nome Deu-La-Deu, ordenou que se recolhesse o pouco trigo que ainda havia. Com ele cozeram-se pães que Deu-La-Deu lançou aos inimigos. Isto fez com que as tropas julgassem que Monção era afinal bem mais abundante e poderosa do que julgavam, e por isso desistiram de tomar-la Monção.
Texto original de Mariana Rodrigues.