Paixão no Vale de Santarém

Paixão no Vale de Santarém
Fotografia: Junta de Freguesia de Vale de Santarém

Passos Manuel convidou o seu amigo Almeida Garrett para uma viagem de Lisboa a Santarém. Nos dias de hoje parece uma jornada pequena, mas naquele tempo os quase 80 quilómetros eram feitos, de mula e a pé e de barco. Portugal era muito diferente, e foi esse país que Garrett retratou não numa viagem, mas em viagens, físicas e mentais, com uma história de amor pelo meio.

Lisboa era, na primeira metade do século XIX, a capital de um império em decadência e de uma nação dividida entre liberais e absolutistas. O escritor partiu de lá com alguns companheiros, pararam em Vila Nova da Rainha, Azambuja e Cartaxo, até que chegaram ao vale de Santarém, onde, por entre as árvores, observaram uma vidraça antiga e um vulto enigmático que nesse momento veio à janela, a “menina dos rouxinóis”.

Garrett encontrava a sua heroína, a quem chamou Joaninha. Vivia com a avó Francisca, que era cega. Longe estava o primo, Carlos, em Inglaterra. Era liberal, partidário de D. Pedro, e regressou a Santarém quando a guerra civil entrou na vila, hoje cidade. Trocou o primeiro beijo com Joaninha, apesar da ligação familiar e de ter esposa em terras de sua majestade – era um homem inseguro no amor, à semelhança do próprio Garrett, e mais instável ficou quando descobriu ser filho do Frei Dinis.

Nesse momento voltou para Inglaterra, jurou à esposa já não amar a prima, mas foi rejeitado. Dedicou-se à carreira política como barão, mas depois de algum tempo desapareceu. Joaninha, essa, ficou desolada com a perda do grande amor e acabou por morrer – é a típica heroína campestre do Romantismo. Meiga, singela e com apenas 16 anos, simboliza uma visão ingénua do Portugal que não aguenta a realidade histórica.