Reviver tempos antigos

Reviver tempos antigos
Fotografia: Tiago Canoso

Na zona do Pinhal Interior, no centro de Portugal, há várias aldeias espalhadas nas serras e vales. 27 delas integram a rede das aldeias do xisto, estando preparadas para receber turistas.

Respire fundo e sinta a pureza da serra. As águas cristalinas, os caminhos de terra, o chilrear dos passarinhos, o vento a bater nas folhas das árvores: uma mistura de sensações. O carro serpenteia por entre as montanhas, os vidros abertos para respirar o ar puro da natureza. Cada aldeia visitada leva-nos a percorrer o caminho que conduz à aldeia que fica do outro lado da montanha ou do vale ou já aqui ao lado.

A associação

 

O projeto das aldeias do xisto surgiu no ano de 2000, no âmbito do terceiro quadro comunitário. Esse projeto durou até 2005/2006, altura em que o esforço dos privados e dos municípios resultaram na criação de uma marca turística, as Aldeias do Xisto. E assim surge a ADX- TUR (associação para o desenvolvimento das aldeias do xisto), agência que gere o desenvolvimento do território e a marca turística “aldeias do xisto”. Desde essa altura que a ADXTUR tem promovido a requalificação patrimonial das aldeias, a criação de infraestruturas turísticas que permitam ao visitante usufruir deste território e a promoção nacional e internacional da marca aldeias do xisto, refere Bruno Ramos, Dire- tor de marketing e comunicação da ADXtur.

 

A marca

 

As aldeias do xisto são uma marca territorial. “A nossa área de intervenção e de desenvolvimento têm a ver com o território como um todo e não só com estas 27 aldeias. Estas aldeias no fundo são marcas, portas de entrada que fazem a angariação de tudo o que é oferta turística, mas temos pontos de interesse em todo o território. Existe xisto no país todo, mas a marca aldeias do xisto é ancora da ao pinhal interior”, frisa Bruno Ramos.

Existe uma rede de postos de turismos municipais preparados para receber os turistas e dar informações, assim como a rede das lojas das aldeias do xisto, que são pontos privilegiados de receção ao visitante e de apoio à informação. Aliás, todas as infraestruturas turísticas que são promovidas na marca aldeias do xisto, sejam lojas, praias fluviais ou postos de turismo, têm informação das aldeias do xisto e pessoas preparadas para responder. “No fundo isso é o verdadeiro espírito e apoio ao visitante que mesmo que chegue a um local onde não exista um serviço que ele procura, nas proximidades existirá com certeza e estes pontos estão preparados para responder a esta solicitação”, acrescenta o Diretor de marketing e comunicação da ADXtur.

 

As aldeias

 

As aldeias do xisto estão divididas em 4 subunidades territoriais: serra da lousã, serra do açor, vale do Zêzere e a zona do tejo mais a sul. Cada uma destas unidades territoriais agrega várias aldeias e tem os seus pontos de interesse e notoriedade em temos de oferta.

Na Serra da Lousã localizam-se 12 das 27 aldeias: Aigra Nova, Aigra Velha, Candal, Casal de São Simão, Casal Novo, Cerdeira, Chiqueiro, Comareira, Ferraria de São João, Gondramaz, Pena, Talasnal.

 

Concelho de Góis

 

Aigra Nova destaca-se por ser a única aldeia de Portugal com uma maternidade (neste caso de árvores). Aldeia do xisto desde 2002, Aigra Nova tem um Eco-Museu e um núcleo asinino, onde os burros se deixam fotografar pelo visitante. A apenas um quilómetro de Aigra Nova situa-se a Comareira, a aldeia mais pequena das 27. Esta aldeia do xisto desde 2002 tem bancos à entrada da aldeia que são autênticos miradouros sobre a serra. A apenas 2 quilómetros de Aigra Nova fica Aigra Velha. Situada a 770 metros de altitude, Aigra Velha é a aldeia do xisto que se encontra a maior altitude. Aldeia do xisto desde 2002, tem um ecomuseu a visitar. Esta aldeia é um autêntico miradouro, permitindo ver a Serra da Estrela e os colossais Penedos de Góis. Tal como no Talasnal, o conjunto das construções está organizado de forma defensiva para proteger das intempéries meteorológicas e de animais selva- gens como os lobos.

Escondida entre penhascos, a aldeia da Pena destaca-se por ter um castanheiro secular a guardar a entrada da aldeia. Por baixo da ponte, um rio corre a toda a velocidade. Esta aldeia do concelho de Góis pode ser descrita como “o resultado perfeito da conjugação do xisto com o quartzito”. Entrando na aldeia, pode encontrar-se um fontanário todo feito em xisto. Destaque também para o moinho de água, um alambique e uma levada de água. A Pena é aldeia de xisto desde 2002.

Ainda dentro do concelho de Góis podem ser visitadas várias praias fluviais, os Penedos de Góis, o Santo António da Neve, vários percursos pedestres, o Parque florestal da Oitava, entre outros.

Concelho da Lousã

 

Subindo a serra da Lousã, a primeira aldeia do xisto que aparece é a Cerdeira, uma verdadeira montra de xisto no meio da serra. Aldeia onde os carros não entram, é muitas vezes refúgio de artistas, havendo residências próprias para o efeito. Anualmente, em julho, a exposição elementos à solta preenche a aldeia, desde as paredes, às árvores, às janelas, todos os locais são propícios para receber uma obra de arte.

Nesta aldeia do xisto habita Kerstin Thomas, escultora de verdadeiras obras de arte em madeira. Também António Carlos Andrade escolheu a aldeia da Cerdeira para a sua arte, a produção e comercialização de plantas aromáticas, medicinais e condimentares.

E se for passar uma temporada à Cerdeira, não deixe de observar ao longe os veados e javalis à solta, principalmente no mês de setembro. A apenas quatro quilómetros da cerdeira encontra-se a aldeia do Candal, uma aldeia que fica à beira da estrada, o que lhe permite ser uma das mais desenvolvidas e que recebe mais visitantes. Tem uma loja que é um excelente ponto de paragem para obter informações sobre as aldeias do xisto. A proprietária da loja das aldeias do xisto do Candal, Ana Pinto, fala com paixão de todas as aldeias e produtos que lhe estão associados. Com cinco moinhos de água, a aldeia do Candal é aldeia do xisto desde 2003.

Continuando a subir a serra pela nacional 236, chega-se ao Talasnal, aldeia do xisto com as casas extremamente juntas, havendo apenas pequenas ruas para circular. Com uma fonte com água a correr de fundo, esta aldeia do xisto desde 2003 tem diversos locais onde pode pernoitar ou comer um petisco.

A apenas três quilómetros de distância encontra-se Casal Novo, tão discreta que se passa por ela sem nos apercebermos. Esta aldeia do xisto desde 2003 é um excelente miradouro sobre a serra.

Continuando a seguir a estrada por mais dois quilómetros chegamos à última aldeia do concelho da Lousã, a aldeia do Chiqueiro. Se for visitar esta aldeia vai parecer-lhe que o tempo não passou por ali, podendo observar rebanhos a tratar das matas. Talvez por ser a aldeia mais isolada do núcleo da Lousã, ainda foi alvo de poucas requalificações.

Concelho de Figueiró dos Vinhos

 

Única aldeia do Concelho de Figueiró dos Vinhos pertencente à rede das aldeias do xisto, Casal de São Simão situa-se ao lado do Vale da Abundância. Esta pequena aldeia com quase uma só rua estende-se ao longo de uma cumeada quase paralela ao curso da Ribeira de Alge. Aldeia do xisto desde 2005, Casal de São Simão caracteriza-se por ter um sentido de coletividade, onde os aldeãos se juntaram para reconstruir as casas mesmo antes de pertencerem à rede das aldeias do xisto. Também esta aldeia tem uma loja da rede das aldeias de xisto, para fornecer informações aos visitantes.

 

Concelho de Penela

 

É no concelho de Penela, na aldeia do xisto de Ferraria de São João, que se localizam o primeiro centro de BTT do país e o primeiro TREK Fun Trail. Esta aldeia do xisto desde 2003 está parcialmente rodeada com uma mata com duas centenas de sobreiros. Cada um dos sobreiros pode ser apadrinhado, sendo os fundos para a sustentação da mata. Desde sempre que esta aldeia possui um rebanho comunitário, tendo este rebanho atualmente 20 a 30 animais. 

Concelho de Miranda do Corvo

 

Quem entrar em Gondramaz é logo recebido por um poema de Miguel Torga, à entrada da aldeia. Aldeia do xisto desde 2003, em Gondramaz existe um escultor em pedra que faz figuras vendidas em todo o mundo. Destaque ainda para esta aldeia estar preparada para pessoas com mobilidade reduzida.

No concelho de Arganil existem duas aldeias do xisto: Benfeita e Vila Cova do Alva. Benfeita destaca-se por ser a única aldeia do mundo com uma torre, um sino e um relógio que exaltam a paz. A 7 de maio, todos os anos esta “aldeia branca” celebra o fim da II Guerra Mundial com 1620 badaladas. Perto da aldeia situa-se a Mata da Margaraça, uma importante floresta do nosso país. Ao visitar esta aldeia não deixe de ver o atelier da Feltrosofia, onde se fazem artesanalmente peças de feltro com um design inovador. Esta é uma aldeia com inúmeros pontos a visitar, principalmente religiosos. E se deseja enviar uma carta ou um postal a alguém especial, esta aldeia tem um posto de correios.

Vila Cova do Alva só é aldeia de xisto desde 2010, sendo uma das aldeias com mais habitantes permanentes. Esta é a aldeia do xisto com mais monumentos, tendo uma rua quase exclusivamente composta por portas e janelas manuelinas do século XVI. Ao contrário de muitas das outras aldeias, se circular no seu interior pode ver várias pessoas à conversa sentadas nas ruas. Esta aldeia tem um convento e dois solares que pode visitar.

Concelho de Oliveira do Hospital

 

A Aldeia das Dez, em Oliveira do Hospital, caracteriza-se por ser predominantemente em granito e não em xisto. Também chamada “aldeia miradouro”, em cada local desta aldeia pode observar a serra. Na aldeia moraram muitos entalhadores e douradores, que beneficiaram a aldeia com as suas obras, sendo a talha dourada da Igreja Matriz exemplo disso. A Aldeia das Dez é também a aldeia das fontes, tendo quatro fontes no total.

 

Concelho da Pampilhosa da Serra

 

A aldeia do Fajão é aldeia do xisto desde 2002. Com gigantescos penedos, esta aldeia é o ideal para amantes de atividades radicais, pois podem praticar alpinismo. Pode visitar-se o museu Monsehor Nunes Pereira, que escreveu “os contos do Fajão”, um conjunto de 24 estórias que são lições de vida. No verão pode refrescar-se na piscina da aldeia, de onde pode observar a paisagem da serra.

Concelho da Covilhã

 

A última aldeia do xisto da Serra do Açor que aqui se apresenta é Sobral de São Miguel, característica por ter um dos maiores aglomerados de edifícios de xisto em Portugal, sendo também denominada de “o coração do xisto”. Desta aldeia exporta-se xisto para o mundo, pois perto de Sobral de São Miguel existem duas pedreiras. Nesta aldeia do xisto desde 2010, há vários fornos comunitários, onde as pessoas se reúnem. E se quiser dar um passeio por toda a aldeia, siga o curso da ribeira do Porsim.

 

Vale do Zêzere

Concelho de Oleiros

 

Álvaro, também denominada “aldeia da fé”, pertenceu outrora à Ordem de Malta, possuindo um notável património religioso para explorar. Esta é mais uma das “aldeias brancas” da Rede das Aldeias do Xisto, pois apesar de as suas casas estarem construídas em xisto, estão maioritariamente pintadas de branco. Esta aldeia do xisto desde 2003 tem inúmeras capelas a visitar. E se gosta fazer um pouco de praia, aproveita para tomar banho na albufeira da Barragem do Cabril, onde também pode andar de gaivota ou praticar canoagem.

No concelho do Fundão encontram-se duas aldeias do xisto: Barroca e Janeiro de Cima. É em Barroca que funciona o centro dinamizador das Aldeias do xisto, na Casa Grande, antigo solar do Séc.

XVIII. À beira do rio Zêzere encon- tram-se antigos moinhos. Atravessando a ponte pedonal podem ver-se gravuras rupestres com milhares de anos gravadas na rocha. Aliás, no centro de interpretação da aldeia tem mais informações sobre a Rota da Arte Rupestre do Pinhal Interior. Sente-se simplesmente a observar a paisagem perto do açude, um dos maiores atrativos da Barroca.

A apenas 14 quilómetros encontra-se Janeiro de Cima, uma aldeia onde pode navegar no Zêzere. A este serviço está associado o termo “ó da barca!”. Não deixe ainda de visitar a Casa das Tecedeiras e o tear gigante, espaço onde se reinventa a tradição do linho apostando em peças de design moderno. Também esta aldeia tem vários pontos religiosos a visitar, tais como capelas e igrejas.

Concelho da Pampilhosa da Serra

 

Reza a lenda que no século XVI ou XVII um senhor com dois filhos, ambos com o nome Januário, decidiu dividir as terras, ficando a margem direita do Zêzere para um e a margem esquerda para outro. Apesar de estar apenas a quatro quilómetros de Janeiro de Cima, Janeiro de Baixo encontra-se num concelho diferente, em Pampilhosa da Serra. Esta aldeia tem cinco parques: um parque infantil, um parque desportivo, um parque de lazer, um parque fluvial e um parque de campismo. O xisto é o material predominante, com a particularidade de muros e fachadas incluírem sei- xos rolados de tons claros recolhidos no leito do rio. Esta aldeia possui uma extensa praia fluvial, onde se pode tomar banho ou praticar di- versos desportos aquáticos. Dentro da aldeia há património religioso e arquitetónico para visitar.

 

Concelho de Pedrógão Grande

 

A aldeia de Mosteiro tem uma praia dentro da povoação, o que é um chamariz para turistas e aman- tes de água nos tempos de calor. Aldeia que sempre esteve muito ligada à água e agricultura tem hoje em dia moinhos 8destacando-se os de rodizio), levadas, lagares e regadios que são pontos obrigatórios de visita. 

 

Concelho da Sertã

 

Pedrógão Pequeno, também conhecido como “Joia da Beira Baixa”, é talvez a aldeia de xisto com mais serviços disponíveis de apoio ao visitante, tais como hóteis, bares, restaurantes, multibanco, farmácia, estação de serviço e posto de correio.

Nesta “aldeia branca”, destacam-se a Igreja Matriz e a Ponte Filipina sobre o Zêzere. Para os apreciadores de gastronomia, a sopa de peixe é imperdível. Tal como as outras aldeias apresentadas no vale do Zêzere, também Pedrógão Pequeno é rico em património religioso e arquitetónico.

 

Zona do Tejo-Ocreza

Concelho de vila de Rei

 

Água Formosa é a aldeia do Xisto do centro de Portugal, encontrando-se apenas a dez quilómetros do centro geodésico de Portugal. O ex-libris da aldeia é uma fonte rústica de água pura que, aliás, esteve na origem do nome da aldeia. Nesta aldeia com menos de dez habitantes pode ouvir apreciar a natureza no seu melhor.

 

Concelho de Proença a Nova

 

“Méeee”, este é um dos sons que pode ouvir ao acordar na aldeia da Figueira. E nada melhor para o pequeno-almoço que um pão quentinho acabado de fazer no forno co- munitário que é, também, o ex-libris da aldeia. Se quiser utilizar este forno terá de fazer marcação. Após o pequeno almoço, pode acompanhar o rebanho, ficar a apreciar a paisagem ou visitar a aldeia. Para finalizar aproveite para levar uma recordação da loja das aldeias do xisto.

Concelho de Castelo Branco

 

No concelho de Castelo Branco localizam-se duas das 27 aldeias do xisto: Martim Branco e Salzedas. Martim Branco tem a particularidade de ter uma loja das aldeias do xisto no mesmo espaço que um Centro de artes e Oficios, o que permite ao visitante visitar os dois de uma só vez. A aldeia, de pequena dimensão, tem um forno comunitário que convida o visitante a participar no método de fazer pão. Juntamente com Figueira, foram as duas aldeias do xisto que mais intervenções receberam.

Por último mas não menos importante, Sarzedas é a única aldeia do xisto com um título nobiliárqui co. Quando visitar esta aldeia não pode deixar de subir à torre sineira, que é um autêntico miradouro sobre a paisagem circundante. Esta aldeia do xisto desde 2003 tem várias capelas que podem ser visitadas.