A Árvore Armada

A Árvore Armada
Fotografia: Município de Freixo de Espada à Cinta

É na margem direita do Rio Douro que repousa Freixo de Espada à Cinta.

Por aqui levam-se as “estórias” a sério: no centro de Freixo de Espada à Cinta, junto da Igreja Matriz, está plantado um freixo no qual - literalmente – está atada uma espada. Assim se faz jus à lenda que declara que, já antes de Portugal ser uma nação, havia população nesta terra. Diz a história (incerta, é verdade) que foi um fidalgo, apelidado de “Feijão”, que fundou Freixo de Espada à Cinta. O fidalgo seria primo de S.Rosendo e faleceu em 1997; no seu brasão, estaria uma árvore com uma espada cintada. Se o fidalgo fosse vivo, com certeza que gostaria de ver o seu mito tornado realidade no centro da vila.

Aliás, são incertas não só as len- das, mas também as origens de Freixo Espada à Cinta. Alguns estudos afirmam que na zona já habitavam povos muito antes da nacionalidade. Foi um palco particularmente aguerrido: D. Afonso II travou, aqui sem sucesso, uma disputa contra Afonso IX de Leão. A terra acabou nas mãos leonesas em 1211. Mais tarde, em 1236 no reinado de D. Sancho II, D. Afonso, filho de Fernando III de Castela, quis cercá-la, mas os habitantes de Freixo defenderam-se com audácia, obrigando os castelhanos a bater em retirada. Como recompensa, o monarca português concedeu-lhe a categoria de Vila em 1240.

Em 1342, os seus habitantes pediram a D. Afonso IV que lhes concedesse o uso da Terça da Igreja, a fim de concluírem as muralhas da vila, ao que o rei acedeu. E foi com estes meios que se começaram a lançar as primeiras pedras da actual Igreja Matriz, cuja edificação só ficou concluída em no reinado de D. João IV. 

No entanto, o sofrimento estava longe de acabar: Freixo de Espada à Cinta ainda veio a ser atormentada durante a “Guerra de Fronteira”, de 1580 e 1640. As pilhagens e destruição de Lagoaça e Fornos em 1644, são testemunhos disso mesmo. Em 1896 o concelho de Freixo de Espada à Cinta foi testado mais uma vez: foi ordenada a sua supressão e consequente anexação a Torre de Moncorvo. Mas a sua população, denotando mais uma a sua capacidade de luta, opôs com energia a esta decisão - e, volvidos dois anos, foi restaurado o foro municipal. Não fazia sentido nenhum a falsa união: afinal de contas, que tem Torre de Moncorvo a ver com a célebre terra da árvore armada?

Texto original de Mariana Rodrigues.