“Trazer para o turismo acessível o turismo inclusivo”
No âmbito do Turismo acessível a Descla entrevistou Maria João Martins, responsável pela área de Turismo Acessível na Associação de Hotelaria de Portugal (AHP).
Descla (D) – A Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) foi um dos parceiros que estiveram na base do projecto Brendait. O objectivo deste projecto foi alcançado?
Maria João Martins (MJM)
– A ideia foi que o projecto conseguisse criar uma rede, e isso foi conseguido. Agregámos uma série de parceiros externos de diversas actividades dentro do sector turístico: alojamento, restauração, animação turística, Postos de Turismo e museus. O Brendait funcionou não só como um espelhar de experiências, mas principalmente como uma forma de apresentar soluções.
D – Muitas vezes as pessoas que têm mobilidade reduzida são tratadas de forma diferente. O que está a ser feito para lidar com essa situação?
MJM – Fizemos algumas acções de formação dentro do projecto Brendait para trazer para o turismo acessível o turismo inclusivo, o qual necessitava reforço formativo na forma de atendimento e postura. É importante perceber que um hotel precisa de todo um conjunto de serviços, como um restaurante que responda com condições de acessibilidade e inclusão, e precisa saber indicar aos turistas o que é que estes vão fazer: qual a praia que é adaptada, qual o museu que tem condições. Por exemplo, um cidadão cego ou surdo ao ir a um museu tem de conseguir fazer a visita de forma perceptível. No caso dos restaurantes podem, por exemplo, colocar os menus em braile.
D – Quais os hábitos a nível de estadia dos turistas com necessidades reduzidas?
MJM – Este cliente traz uma série de benefícios directos para a hotelaria. Primeiro, ficam muito mais tempo, há um aumento imediato na estadia média de hotel. Depois, consomem muito mais no hotel, sobretudo se o hotel tiver restaurante: 98% das refeições no período nocturno. E têm outro factor que é a questão do combate à sazonalidade, porque são um tipo de segmento que não vem cá só no período de sol e praia. Vêm muito à procura do turismo fora da designada época alta, de que a região Oeste é muito dependente.
D – A nível dos hotéis que trabalham convosco, quan- tos estarão devidamente preparados?
MJM – Em Portugal todas as unidades licenciadas após 2006 têm que cumprir as normas de acessibilidade previstas pela legislação. Tudo o que eram barreiras arquitectónicas tiveram que ser eliminadas. Mas uma coisa é cumprirem com as obrigações, outra é tentarem não só cumprir as normas, mas terem todo um hotel adaptado e, inclusivamente, poderem aumentar o número de camas para este tipo de segmento.
D – Qual o futuro deste tipo de turismo a médio/longo prazo?
MJM – Em 2020 30% da população terá, à partida, algum tipo de condicionante, seja por idade ou por algum tipo de deficiência. Enquanto destino turístico preferencial da Europa do Sul temos todas as condições e devemos posicionar-nos para receber o maior número possível deste tipo de cidadãos e clientes, que podem favorecer muito não só o destino mas também as unidades hoteleiras.
D – E em termos de transportes, por exemplo de aviões, linhas aéreas, acha que vão conseguir adaptar-se?
MJM – Nesse aspecto o Norte do país prima não só por terem sido dos primeiros, mas também por haver sempre a preocupação de tornar as cidades o mais acessíveis possível. Porque quando falamos de turismo acessível pensamos sobretudo em turistas que vêm do Norte da Europa, mas temos que pensar também nos nossos próprios cidadãos, todos nós, que de forma temporária ou permanente, em qualquer momento da nossa vida podemos ficar incapacitados. Há muitas empresas que já estão a adaptar-se. No caso do transporte aéreo, já existe há muito por parte da ANA Aeroportos uma grande preocupação num melhor acompanhamento.