“Cidades inteligentes”

“Cidades inteligentes”
Fotografia: Lino Ramos

A discussão sobre o futuro das cidades e vilas é indissociável do conceito de “smart cities”, ou “cidades inteligentes”, aquelas que usam a tecnologia para reduzir custos, promover a eficiência e melhorar os serviços prestados aos cidadãos. Em Portugal, como noutros países, estão a ser desenvolvidos projectos de todos os tipos: a substituição das lâmpadas normais por lâmpadas LED acompanhadas de sensores, para ligarem apenas quando há movimento, a aposta em contadores inteligentes que evitam o desperdício de água, ou o uso de chips nos contentores de lixo para medir a quantidade de material e com isso permitir que os camiões façam uma recolha mais direccionada e eficaz.

Algumas vilas e cidades por- tuguesas são exemplos nesta área. É o caso de Cascais, que tem o sistema de mobilidade integrado MOBI Cascais, o qual permite aos cidadãos pagarem uma avença para usarem todo o tipo de serviços de mobilidade, desde bicicletas a táxis ou comboio, ou a aplicação City Points, através da qual as pessoas podem acumular pontos ao realizar acções amigas do ambiente, da cidadania, responsabilidade social e mobilidade sustentável. Esses pontos podem depois ser trocados por vales de produtos ou serviços, como entradas gratuitas em museus, visitas guiadas, livros, etc.

Estes dois projectos desperta- ram especial interesse nos Estados Unidos, durante a maior feira internacional de tecnologia, a CES, que decorreu no início de Janeiro em Las Vegas. Pela primeira vez, uma autarquia portuguesa foi convidada a participar e Cascais foi apresentada no evento como uma das cidades mais inteligentes e avançadas da Europa. “Temos impostos elevados, é caro viver em Cascais, por isso temos de dar algo em troca à sociedade. Estamos a dar qualidade de serviço: boas estradas, áreas verdes, um terço do território é protegido, sistema de mobilidade como serviço", explicou o vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz.

O impacto foi tal que a cidade de Los Angeles quis saber mais sobre o MOBI Cascais e o City Points, estando em conversações com o município português para aplicar os dois projectos no novo megaestádio dos Los Angeles Rams, que será o mais caro do mundo. Cascais está no top 10 das cidades mais inteligentes de Portugal, a par de Porto, Águeda, Bragança, Guimarães, Matosinhos, Braga, Sintra, Aveiro e Santarém, segundo o Smart City Index de 2016. Viseu não aparece neste ranking mas tem feito muito para o conseguir. Ainda este ano deverá pôr em circulação o primeiro transporte eléctrico não tripulado em serviço urbano. “Seremos a primeira cidade da Europa a ter um serviço destes”, sublinha o presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques.

O autarca, que lidera também a secção de cidades inteligentes da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), lembra a aposta em lâmpadas LED e sensores, que poderão permitir uma poupança de um milhão de euros no espaço de quatro anos, e fala com orgulho do projecto MUV – Mobilidade Urbana de Viseu, “uma visão integrada do que é a mobilidade”, que envolve, numa primeira fase, a implementação da primeira rede urbana de ciclovias, a MUV BIKE, que liga diversos pontos da cidade ao longo de 5,5 quilómetros, e a disponibilização de bicicletas, normais e eléctricas. A iniciativa prevê ainda o transporte “a pedido” para freguesias de baixa densidade populacional, entre outros projectos. Estas freguesias podem também beneficiar de uma outra aposta que o município está a fazer no âmbito das smart cities: estações de tratamento de água para abastecer localidades mais afastados da rede central. A primeira vai ser instalada em Casal D’Eiro, uma localidade com apenas 20 habitações.

Esta, como outras “ideias inteligentes”, tem tecnologia portuguesa. De resto, o país revela potencial nesta área, com diversas empresas a darem cartas no âmbito da inovação tecnológica. Trabalho, parece que não vai faltar, à medida que a ideia de smart city se vai impondo. “Há muito para fazer no sentido de tornar os sistemas mais eficientes e caminharmos no sentido do ‘utilizador-pagador’”, revela o líder da secção de smart cities da ANMP, a qual tem, neste momento, 124 municípios. Almeida Henriques quer chegar ao 308, a totalidade deles, e acredita que isso vai acontecer até 2021, quando terminar este mandato autárquico.