Senhor Lopes, um jovem com 5.000 anos
A conservação deste vasto património é uma das grandes preocupações desde que o parque foi criado, há mais de 20 anos. O número de visitantes por dia/sítio é limitado e criou-se um sistema integrado de gestão e acompanhamento das intervenções humanas com impacto na paisagem. Em todo o caso, este museu ao ar livre não pode receber turismo de massa, razão pela qual foi criado, em 2010, o Museu do Côa, a cerca de três quilómetros de Vila Nova de Foz Côa. O edifício parece uma continuação das gravuras: tem a forma de uma rocha, gigante e rectangular, em betão e xisto, material predominante na zona. Parece que entramos numa gruta onde se ouvem sons de animais e homens com milhares de anos. Os visitantes até deram nome a um desses antepassados, o “senhor Lopes”, jovem que terá morrido há cerca 5.000 anos e cujas ossadas foram descobertas nas escavações de 1984. O museu tem quatro pisos e é no 0 que funciona a exposição permanente, com fragmentos e artefactos do Paleolítico Superior, como lanças e facas em pedra.
A claridade indica uma saída. A paisagem deslumbra qualquer um, até mesmo aqueles cujo olhar ainda procura habituar-se à luz do exterior. O rio Douro corre sereno pelo meio das encostas, marcadas pelos típicos socalcos da vinha. “Um concelho, dois patrimónios mundiais” é o slogan de Foz Côa, fazendo referência ao Alto Douro Vinhateiro, classificado pela Unesco em 2001, três anos depois das gravuras rupestres.
Este bem da humanidade foi actualizado em 2010, quando a Unesco incluiu a estação de arte rupestre de Siega Verde, localizada na província de Sa- lamanca, em Espanha. O conjunto, descoberto nos anos 80, tem grandes semelhanças com as gravuras do Côa e integra actualmente 94 painéis espalhados por 15 quilómetros, com mais de 500 representações de animais e alguns signos esquemáticos que foram feitos pelos homens do Paleolítico Superior entre 20.000 e 12.000 anos antes da nossa era – é o maior achado do género em Espanha. As estações portuguesa e espanhola constituem desde então o património do “Côa e Siega Verde”.