O Teatro dos teatros

O Teatro dos teatros
Fotografia: Filipe Ferreira

Há nomes que são sinónimo da história de um país. O teatro D.Maria II é um deles.

Símbolo máximo das artes dramáticas em Portugal, o Teatro D. Maria II é mais do que uma instituição ou um nome sonante: é um testemunho da passagem do tempo. Com mais de 170 anos de existência, mais do que acolher espetáculos culturais, o Teatro guarda em si partes da história do país. O Teatro Nacional D. Maria II foi inaugurado a 13 de Abril de 1846, a propósito das celebrações do 27º aniversário da Rainha Maria II. O seu nascimento está associado a um período fulcral no panorama cultural e político do país, e deveu-se a nem mais nem menos do que a Almeida Garrett.

O poeta foi encarregue, por portaria régia, de elaborar um plano para fundar um teatro nacional.

Por esse mesmo decreto, Almeida Garrett ficou encarregue de criar a Inspeção-Geral dos Teatros e Espetáculos Nacionais e o Conservatório Geral de Arte Dramática, instituir prémios de dramaturgia, e regular direitos autorais. Estávamos então em plena era Romântica, e na Europa cada nação tinha a preocupação de solidificar um repertório dramatúrgico nacional. Portugal estava particularmente necessitado de uma renovação na sua identidade, que saiu lesada com as invasões francesas e as lutas liberais. As raízes do Teatro remontam a 1936, ano em que começou a funcionar no Teatro da Rua dos Condes, passando mais tarde para os escombros do palácio dos Estaús, antiga sede da Inquisição. Tudo locais considerados questionáveis e decrépitos. A escolha do arquitecto Fortunato Lodi, para executar o Teatro Nacional, também não foi isenta de críticas. Só em 1842 é que Almeida Garrett conseguiu arrancar com as obras.

Após a implantação da República, passou a chamar-se Teatro Nacional de Almeida Garrett.

Em 1964, o Teatro Nacional foi palco de um brutal incêndio que apenas poupou as paredes exteriores e a entrada do edifício. O edifício que hoje conhecemos, e que respeita o original estilo neoclássico, foi totalmente reconstruído e só em 1978 reabriu as suas portas.

Toda esta história pode ser revisitada com as visitas guiadas ao Teatro Nacional D. Maria II. Desde os camarins até às passagens secretas, os 170 anos de vida da instituição podem ser revelados aos visitantes.

ALMEIDA GARRET

Almeida Garrett consolidou-se não só enquanto poeta, mas também enquanto figura política. Nasceu no Porto em 1799, e foi durante uma estadia na Inglaterra que tomou contacto com as expressões da corrente Romântica. Tomou parte na Revolução Liberal de 1820. Enquanto impulsionador do teatro português, fez parte da criação do Teatro Nacional D.Maria II e do Conservatório de Arte Dramática. Durante três décadas, escreveu várias peças de teatro, entre as quais Falar a Verdade a Mentir e Frei Luís de Sousa. Faleceu em 1854, estando os seus restos mortais no Panteão Nacional. Para muitos, é a personagem mais emblemática do Romantismo em Portugal.

Texto origininal de Mariana Rodrigues.