A Coimbra da bela Inês

A Coimbra da bela Inês
Fotografias: Lino Ramos

Inês de Castro vivia feliz, muito feliz, nos “saudosos campos do Mondego”, apaixonada pelo seu príncipe encantado, D. Pedro. Sempre que estava longe dele vinham as lembranças, “de noite, em doces sonhos”, “de dia em pensamentos que voavam”. Mas o destino – ou a “Fortuna”, como lhe chamou Camões n’Os Lusíadas – não podia permitir que aquele ingénuo estado de alma durasse muito tempo.

D.Pedro era herdeiro do trono de Portugal e D. Inês uma galega. Tinham quatro filhos, sementes de um amor platónico, impossível, pelo menos segundo a lei dos homens. O romance ameaçava a independência do reino – assim pensava o povo, os conselheiros do rei, D. Afonso, e o próprio monarca, que esteve para seguir o coração de avô, mas acabou por mandar assassinar a pobre donzela. A crónica desta morte anunciada escreveu-se no século XIV em Coimbra, cidade que mantém a áurea romântica. Diz a lenda que D. Pedro, para comunicar com a amada, punha as cartas em barquinhos de madeira, transportados até ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha pela água que corria de uma fonte situada na Quinta das Lágrimas.

A nascente teria origem no choro das ninfas do Mondego, ao saberem da morte de Inês. Na mesma quinta, uma outra fonte nasceria das lágrimas vertidas pela donzela. O sangue terá ficado preso nas rochas do leito, ainda hoje rubras. De nada valeu o apelo de Inês, “fraca dama delicada”, de “olhos piedosos”, prostrada diante do rei e dos carrascos, abraçada aos meninos “tão queridos e mimosos”. Tentou mostrar que não tinha culpa de amar quem a conquistou e que o rei devia saber dar a vida, tal como soube dar a morte na guerra com os mouros. E os filhos, que ficariam órfãos? D. Afonso, “já movido a piedade”, quis perdoar, “mas o pertinaz povo e o seu destino / (que desta sorte o quis) lhe não perdoam”.

A história de Pedro e Inês é a mais romântica do imaginário português, mais antiga do que a paixão de Romeu e Julieta, de Shakespeare. A culpa, como sempre, é do amor: foi ele o responsável pela morte da donzela galega, segundo Camões. Essa “força crua”, o “fero amor”, “áspero e tirano”, não se contenta com lágrimas, exige sacrifícios humanos.

Em Coimbra, uma bela ponte pedonal perpétua o romance de Pedro e Inês, ela que se tornou rainha depois de morta. O seu corpo foi guardado por D. Pedro num túmulo que mandou construir no Mosteiro de Alcobaça, onde também ele veio a repousar anos depois. Os sepulcros estão frente a frente, para que no Dia do Juízo Final os dois amantes pos- sam olhar-se nos olhos…