Turismo para todos

Turismo para todos
Fotografia: Tiago Canoso

Foi em 2010 que abriu o SELÂO DA EIRA, um espaço de turismo rural no Alentejo onde a natureza reina.

Entramos e respira-se natureza e tranquilidade por todo o lado. São hectares e hectares de terreno onde se podem fazer caminhadas, relaxar e estar em contacto com o ar puro. Estamos no SELÃO DA EIRA - Turismo Rural no Alentejo, na costa alentejana, no concelho de Odemira. Este turismo de natureza abrange três sítios, cada um com 2/3 alojamentos de alta qualidade e com piscina. Dois dos espaços têm uma vista panorâmica, pode ver-se o nascer-do-sol sobre a Serra do Monchique e o pôr-do-sol sobre o mar. O terceiro localiza-se num barranco fluvial em plena Reserva Ecológica Nacional.

Aqui as famílias podem pas- sar uns dias e usufruir do melhor que o local proporciona. Há muito espaço para as crianças brincarem e os animais são bem-vindos. Os alojamentos proporcionam o máximo de privacidade e têm espaços exteriores privativos, o que permite aos visitantes fazerem um “retiro” e desligarem das preocupações do dia-a-dia.

São   também    disponibilizadas    massagens    e    terapias naturais. Na “Thai Ayurveda Sala para Terapias Naturais” uma médica de Medicina Tradicional Tailandesa e terapeuta profissional de Ayurveda (sistema curativo ancestral da Índia) proporciona tratamentos de saúde e bem-estar. A partir do Setembro vão passar a estar disponíveis “Pacotes Terapêuticos” com ciclos de 5, 7 e 10 dias de tratamentos e yoga. Uma outra particularidade deste turismo na natureza é que duas casas e uma das piscinas, a que se encontra na Casa de Campo “Salgadinho”, são adaptadas para pessoas com mobilidade reduzida. Aliás, esse foi um dos princípios inerentes à construção do espaço.

Os três sítios são ecológicos e aliam a natureza ao conforto.

Um espaço acessível

Na Casa de Campo “Salgadinho”, bem como no adjacente “Sítio das Rolas”, o espaço verde e as piscinas têm uma vista deslumbrante, de onde se podem ver hectares de terreno arborizado e, lá ao fundo, o mar. O que nós não vemos é que a piscina do Salgadinho foi construída a pensar em pessoas que utilizam cadeira de rodas, que conseguem utilizá-la de forma completamente autónoma.

A Casa Peixe, com um amplo alpendre com acesso directo a esta piscina, está preparada para receber pessoas com mobilidade reduzida, tendo armários inferiores na cozinha, para facilitar o acesso à loiça, espaço suficiente e uma cama ligeiramente mais alta do que comum, assim como uma casa de banho espaçosa e adaptada, mas de forma discreta; tudo para permitir a maior autonomia e mobilidade.

O outro alojamento adaptado para cadeira-de-rodas, no sítio ao lado, alberga durante este ano a “Thai Ayurveda Sala”, enquanto a construção de um espaço próprio para a parte da medicina natural está em projecção. Quando pensamos em mobilidade reduzida, tendemos a associar a pessoas que estão em cadeira de rodas, mas é muito mais do que isso. Com o aumento da esperança média de vida temos cada vez mais uma população envelhecida, que gosta de fazer turismo e necessita de algumas acessibilidades que poucos hotéis e ainda menos os turismos em espaço rural disponibilizam.

 

“Natureza” acessível

No Selão da Eira Velha, o terceiro espaço deste turismo, que também deu o nome ao empreendimento, está actualmente a ser transformado num espaço de recreio público. A proprietária e gestora, Cornélia Kuhnle, explica que este é um local onde não só os hóspedes do próprio turismo, como também os passantes podem usufruir de um tempo relaxante nos terraços e no pavilhão com um café-esplanada e apreciar o ambiente, na presença dos pavões, cisnes e patos que habitam o Selão da Eira.

O “Caminho Histórico” da Rota Vicentina passa neste local, uma rota pedestre de grande extensão, integrando vários passeios num circuito dentro da propriedade, pelo que este espaço de recreio é uma mais-valia também para os desportistas. Grande parte do vale Selão da Eira Velha está a ser desenvolvido de forma a permitir que pessoas com mobilidade reduzida, até em cadeira-de-rodas, lá circulem. “Vejo que neste país pessoas em cadeira de rodas não têm para onde ir, o máximo que podem fazer é ir ao bar da esquina, mesmo no Verão. Então pensei que já que estamos a criar um espaço de recreio público, vamos torná-lo, nas partes onde é possível, também acessível a cadeira de rodas. Vejo isto também como uma responsabilidade social e não só como um mercado. Acho que já que investimos, deveríamos olhar para este aspecto também do ponto de vista da responsabilidade social”, sublinha Cornélia Kuhnle.

 

O panorama nacional

Nos dias de hoje a maioria das reservas são feitas através de plataformas na internet, o que se pode revelar um problema quando se trata de acessibilidades. “As plataformas habituais não são de confiança para pessoas que procuram um sítio adaptado. Para já, há publicidade enganosa com alojamentos que declaram que têm “Acessibilidade para cadeira-de-rodas”, a qual de facto simplesmente não existe”.

Recentemente saiu uma legislação que vincula o licenciamento dos empreendimentos  turísticos que obriga a que pelo menos um quarto tenha casa de banho adaptada a cadeira de rodas. “Muitas vezes, apenas o mínimo necessário é feito, e os tais quartos ficam como uma “ilha” nos empreendimentos ou, na realidade, nem sequer servem para quem chega em cadeira-de-rodas. Para não criar um malentendido: a legislação é positiva e necessária, mas sozinha não muda atitudes. Para fazer de Portugal um destino verdadeiramente “Accessible4All”, precisamos de ensino, de sensibilização, de guias práticos em todos os sectores e vertentes que constituem o sector de turismo e contribuem para o seu desenvolvimento”, frisa a proprietária.

Um  passo  importante, actualmente a decorrer na responsabilidade do Turismo de Portugal, é a criação de uma plataforma específica para divulgar o turismo acessível. A plataforma “Tur4All” vai listar locais e empreendimentos turísticos preparados para receber pessoas com mobilidade reduzida e com outras necessidades específicas.

 

O futuro

O turismo acessível é cada vez mais uma realidade a nível mundial, e está também incluído no quadro estratégico do turismo nacional para os próximos dez anos (2017-2027). Cornélia Kuhnle imagina um futuro promissor para Portugal na área do turismo acessível, por ser um país tranquilo com muito a descobrir e com um povo que é muito cordial e hospitaleiro. Se pudesse existir algum apoio, não apenas financeiro, por algumas entidades de turismo, o sonho dela era criar um programa turístico tipo “Descubra Portugal em Cadeira de Rodas”, descobrindo, promovendo e articulando alojamentos, transportadoras, restaurantes e gestores de patrimónios naturais ou edificados que se comprometessem a desenvolver e manter em conjunto uma oferta turística atractiva e acessível para pessoas com mobilidade reduzida.